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Fest Aruanda encerra com Belchior

Fest Aruanda encerra com Belchior

Belchior – Apenas um Coração Selvagem, primeiro documentário dirigido pelos cineastas Camilo Cavalcanti e Natália Dias, será apresentado gratuitamente hoje, a partir das 19h, na Rede Cinépolis do Manaíra Shopping, localizada na cidade de João Pessoa, fechando a programação de filmes da 17ª edição do Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, cujo encerramento do evento ocorrerá amanhã. Trata-se da primeira exibição do filme na região Nordeste, que acompanha a trajetória de um dos compositores mais importantes da MPB: o cantor cearense Antônio Carlos Belchior (1946-2017). A obra tem a participação especial do ator Silvero Pereira (Bacurau), que declama poesias e letras do saudoso artista.

A estreia de Apenas um Coração Selvagem aconteceu no 27º É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários, ocorrido de março deste ano. O lançamento nacional oficial do documentário está previsto para o primeiro trimestre de 2023, em TV fechada pelo canal Curta! e em plataformas de streaming.

“É a primeira vez que participo do Fest Aruanda. Foi uma alegria enorme ter sido convidado, há cerca de dois meses, e, quando contei para amigos meus cineastas, todos ficaram contentes, por considerarem esse evento muito importante. Eu queria muito trazer o filme para a Paraíba, e por isso estou muito feliz, porque a origem desse documentário é a cultura do Nordeste, e não apenas a do Ceará. E Belchior fala, no filme, sobre como essa cultura forma e transforma o Brasil. Além disso, sou mineiro, mas minha avó e meu pai são pernambucanos”, confessou o cineasta Camilo Cavalcanti, que também assina, com Paulo Henrique Fontenelle, o roteiro de Belchior – Apenas um Coração Selvagem.

O diretor relatou que a ideia de realizar o projeto do documentário surgiu no início de 2016. “No final de 2015, eu tive contato com a cantora Daíra, de Niterói (RJ), de quem ouvi num pocket show uma música pouco conhecida de Belchior intitulada Princesa do Meu Lugar. Fiquei absolutamente encantado e muito tocado pela força, o poder dessa canção, mas, principalmente, pela letra, que fala de um sujeito que está indo, mas um dia vai voltar para ver a princesa dele. As letras de Belchior são muito críticas, mas, independente disso, têm o uso da palavra de forma refinada, nas letras, pois era um homem culto e ele explica esse processo artesanal da composição das letras no filme”, disse o cineasta.

Camilo Cavalcanti ainda observou que o projeto do filme também surgiu a partir da identificação que ele mesmo e a diretora Natália Dias nutrem pela obra de Belchior, que classifica como sendo “uma paixão” pela obra do cantor e compositor cearense. O cineasta informou que, em 2016, a ideia de concretizar o longa começou a ser implementada. “Estávamos, ainda, na fase da realização de pesquisas e escrevendo o roteiro. A nossa ideia, até como fãs de Belchior, era entrevistá-lo e pretendíamos encerrar o documentário gravando um show de Belchior, como se fosse a retomada de sua carreira, mas não deu tempo, pois ele morreu no ano seguinte”, disse ele.

Apesar da morte de Belchior, Cavalcanti e os demais integrantes resolveram dar sequência ao projeto. “A participação da pesquisadora Isabela Mota foi fundamental nesse processo, pois nos entregou material de entrevistas em vídeo, de rádio e impresso concedidas por Belchior, durante sua carreira. Com a morte dele, tivemos mais certeza e força para continuarmos o projeto. Como o material nos entregue pela pesquisadora foi muito grande, realizamos o documentário, que é um filme sobre ele, através dele e com ele contando a sua história”, explicou ele.

Filme de montagem

Apenas um Coração Selvagem com Belchior seria “outra coisa, mas o filme precisava ser feito e, com sua morte, tivemos que fazer uma reestruturação”, esclareceu Camilo Cavalcanti. “E, para isso, também contamos com o roteirista Paulo Henrique Fontenelle, que é talentoso e dedicado e soube casar o roteiro com as imagens, no processo de montagem”. Para o cineasta, o documentário é, essencialmente, um filme de montagem. “Também usamos imagens de Elis Regina, que impulsionou a carreira de Belchior, de quem gravou duas músicas de Belchior, ‘Como Nossos Pais’ e ‘Velha Roupa Colorida’, no disco Falso Brilhante. E convidamos o ator de Bacurau, também cearense, Silvero Pereira, para declamar letras de Belchior, pois queríamos descolar as músicas das letras, para reforçar o poder das letras. Não é um filme de oportunidade, porque esse filme já existia no nosso coração antes que Belchior morresse”, garantiu o realizador.

Cavalcanti comentou que o documentário “é um filme em primeira pessoa”, no qual o próprio Belchior conduz o espectador por sua carreira e obra. “Os casos e conversas nos revelam diversas facetas do rapaz latino-americano: o peregrino, o crítico, o atemporal, o cidadão comum, o irônico, o sensual, o filosófico, o ácido, o retirante, um homem do seu tempo e para além dele. Sem a pretensão de explicar cada uma dessas personas e sem abrir mão das contradições desse instigante personagem da Música Popular Brasileira, o filme viaja pela importância e contemporaneidade de letras e mensagens que compõem uma obra pulsante, viva e cortante”, disse o codiretor. No longa, Belchior, que era conhecido por suas críticas às letras do tropicalismo, relata a influência poética, lírica e religiosa do Nordeste em suas canções e o filme ainda faz uma jornada por composições de sucesso, a exemplo de ‘Sujeito de Sorte’, ‘Paralelas’, ‘Apenas um Rapaz Latino-Americano’ e ‘Coração Selvagem’.

Matéria de Guilherme Cabral para o Jornal A União.


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